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Professor universitário e de pós-graduação, Doutorando em Contabilidade e Gestão pela Universidad San Carlos, Assunción, Py, Contador, Consultor, Financista, Projetista, Auditor, Radialista, Escritor, Poeta.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Qual é mesmo o tamanho da farra?

No último dia 30 de abril, com o fatídico horário marcado, milhões de brasileiros estavam com os dedos trêmulos em surrados teclados de computadores, suor de agonia perolando a testa, mesa atulhada de papéis representando ganhos e gastos do ano de 2008 e uma gigantesca tulha de dúvidas e incertezas. Gasto com educação tem limite? Despesa médica de minha mãe pode ser abatida? A merreca da poupança tem que ser declarada? E os juros que a poupança rendeu, são tributáveis ou não? Filho maior de 24 anos, ainda na faculdade, é dependente? E por aí vai...
No final, a simulação prá ver de que jeito a mordida financeira do Leão (não eu, aquele do Imposto de Renda) vai doer menos. Por que dói mesmo.
Contas fechadas, chegou a hora de transmitir a declaração. Como você deixou prá última hora, a conexão está sobrecarregada e não conecta nem a pau. Aí é um sufoco. Clica, abre, grava, remete...uma, duas, três vezes. E nada. Vinte e duas horas...e nada. Vinte e três horas e dezenove minutos...Ufa! Foi.
A sensação de alívio é equivalente a um enorme copo de água gelada quando se está com uma sede enorme. E a agonia foi tanta que você se promete, para o exercício de 2009, contratar um Contador para lhe livrar desse abacaxi de caroço. É, porque, francamente, tem algumas coisas que ninguém gosta, não é mesmo? Domingo de chuva, cerveja quente, café frio, sapato folgado (ou apertado), imposto de renda.
Mas enfim, você conseguiu. Você é um dos quase trinta milhões de brasileiros que conseguiram prestar contas ao Leão (insisto: aquele outro lá, não eu). Você é um daqueles brasileiros que trabalharam doze meses no ano de 2008, dos quais, 1/3 é para pagar impostos. Trabalhou sem férias, sem descanso, dia após dia, recebendo seus rendimentos tributados na fonte, que nada mais é do que antecipação do imposto que você, de fato, só deverá depois do final do ano. Mas você conseguiu.
Entretanto, tem alguma coisa que está ali por perto, lhe arrodeando, lhe incomodando, lhe dando a impressão de que você está muito próximo de ser besta. É que no jornal das oito, você mais uma vez viu que tem indios mantendo autoridades em cárcere privado para poder fazer valer suas reivindicações; você viu que esse barulho da farra das passagens aéreas pra turma de Brasília está caminhando prá um acordão que vai terminar dando em nada (ou quase nisso); você viu deputados chorando candidamente em frente à câmaras de televisão, se declarando perseguidos pela mídia e por uma parcela marrom de subversivos que teimam em existir; você viu que tem político inaugurando 12 dos 180 quilômetros de rodovia federal(!!!); você viu que tem gente marcando consulta médica para agosto; você viu que não tem ninguém muito preocupado com a geração de emprego e renda na sua cidade.
Mas você é brasileiro e acabou de fazer sua parte. E é com essa parte que Brasília e seus moradores privilegiados mantêm o sistema funcionando. Se você não está gostando, tome uma atitude, ora! Reuna sua classe e ponha a boca no trombone. Fale, grite, esperneie. Afinal, o direitum strebuchandum ainda é uma das poucas coisas gratuitas deste país.
Pois é. Você acabou de cumprir o cívico dever financeiro de prestar contas ao Leão (!!??). Agora, tente cobrar contas do Leão, prá ver se você consegue, pelo menos uma resposta.
Pois é. Agora você pode dormir tranquilo, até o pagamento da segunda cota do seu imposto de renda...ou até o terrível dia em que um carteiro bata na sua porta, balance um envelope branco com o timbre oficial do país em um dos lados e lhe diga a frase mais temida do Brasil atualmente: "Assine aqui o AR, por favor". Aí, como num passe de mágica, você instantaneamente se vê transportado exatamente para o meio daquelas mesmas sensações que você estava sentindo no último dia 30 de abril.
Pois é.
Eu sou Ademir Leão. E este é meu ponto de vista. Afinal, eu tenho direito a um, não é mesmo?

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